Analistas consideram abandono do dólar como uma nova descolonização

 Analistas consideram abandono do dólar como uma nova descolonização

Analistas consideram que aspectos que marcaram a cimeira do grupo BRICS, realizada em Agosto na vizinha África do Sul, foram o anúncio pelos membros desta aliança (Brasil, Rússia, índia, China e África do sul) do abandono do dólar norte-americano e da sua expansão, com a adesão de mais países, a partir de Janeiro próximo.

Classificam este posicionamento como sendo irreversível no processo da desdolarização, a avaliar que muitos países procuram alternativas ao dólar norte-americano e vias de como acabar com a suposta ‘’dependência’’ dos Estados Unidos, por alegarem que Washington usa a sua moeda como meio de coerção. 

O analista do jornal South China Morning Post, Alex Lo prefere recuar no tempo, lembrando que durante os distúrbios entre Hong Kong e China, em 2019, aventou-se a possibilidade de Washington cortar o acesso daquela região ao dólar.

Falando ainda do caso mais recente da Rússia quando Washington voltou a usar o dólar como instrumento de guerra, tendo congelado activos russos em nome da ‘’liberdade e dos direitos humanos’’.

Este especialista considera como sendo mais do que necessário para que o mundo abandone o dólar e crie uma nova ordem mais justa, mesmo que seja algo difícil ou leve algum tempo para se alcançar.

Ele compara a desdolarização como uma nova descolonização, frisando, porém, que o abandono do dólar, que já não é uma escolha, mas sim uma necessidade ‘urgente’ para o resto do mundo.

Neste contexto, o articulista convida a todos os países que ele apelida de ‘’vassalos’’ ou ‘’inimigos’’ de Washington para trilharem por um novo caminho.

Citado pela agência noticiosa Sputnik, Lo afirma que a verdadeira face unipolar dos Estados Unidos finalmente veio à tona, rotulando, em diante, o País do Tio Samuel que não tem nada de ‘’bom moço’’.

Este especialista alega que a transformação do mundo, com o capitalismo emergindo, significa que o ‘’império’’ anglo-americano surgiu para controlar a economia global.

Na análise, avança ainda que ‘’apesar da profunda amnésia histórica, os Estados Unidos da América usam sua carreira como um império promissor, apoderando-se de outros territórios’’.

Após a Segunda Guerra Mundial, de acordo com Lo, Washington abandonou o seu imperialismo territorial e passou a focar mais no domínio e controlo da economia mundial, com o dólar a ser instrumento financeiro primário de controlo global, apoiado por centenas de bases militares divididas em cinco comandos globais sob o Pentágono.

Neste prisma, os Estados Unidos, usando sua moeda como arma, podem, a qualquer momento, punir aqueles que não seguem suas doutrinas, com sanções, confiscando ou congelando seus dólares, de modo a forçar ao máximo estas nações a permanecerem sob seus ‘’comandos’’

Contudo, sem querer rebater a questão, referir que desde o estabelecimento do sistema do Bretton Woods, em Julho de 1944, a moeda norte-americana foi sempre usada como meio para o comércio internacional.

Mas apesar do seu predomínio, tem havido, nos últimos, o abandono paulatino no uso desta moeda por vários países.

Por exemplo, nos princípios deste ano, a Argentina juntou-se ao Brasil no uso do yuan chinês nas suas importações, ao em vez do dólar. Em Março último, o Brasil e a China concluíram um acordo que estipula o uso das suas respectivas moedas nas trocas comerciais bilaterais.

O Presidente da Bolívia, Luís Arce, juntou-se ao ‘’barulho’’, tendo anunciado, em Abril passado, que o seu governo estava a considerar o uso do yuan chinês nas transacções internacionais.

Em Março de 2022, a Arábia Saudita negociou com a China para o gigante asiático passar a adquirir o petróleo e gás saudita em yuan.

Portanto, desde 2011 para cá, a China tem vindo a afastar-se, de forma gradual, o uso de dólar nas transacções internacionais e, como prova disso, em 2018, Beijing começou a adquirir o petróleo em yuan.

De referir que pouco depois da guerra na Ucrânia, muitos países ocidentais impuseram sanções à Rússia. Em resposta, o Presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto no qual mandou países considerados ‘’não amigos’’ para, a partir de 1 de Abril, adquirirem o seu gás natural em rubro.

Apesar de ter havido resistência, quatro companhias europeias começaram a pagar o gás russo em rubro.

Em Agosto de 2022, a Turquia e a Rússia concordaram em usar a moeda russa (rubro) no comércio de gás natural.

Em Setembro de 2022, Alexey Miller, director executivo da empresa de energia russa, a maior exportadora de gás natural do mundo, Gazprom, anunciou que iriam aceitar o rubro e yuan.

Além disso, o Presidente Putin assinou, em Março de 2022, uma ordem proibindo países não amigos, incluindo os da União Europeia, Estados Unidos e Japão de comprar o gás russo em outras moedas.

O governo saudita declarou em Janeiro, deste ano, que estava aberto a efectuar trocas comerciais em outras moedas, incluindo o dólar.

Uma pesquisa da Currency Composition of Official Foreign Exchange Reserves (Coffer) do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu que as reservas de acções mantidas em dólar pelos bancos centrais caíram de 71 por cento, em 1999, para 59 por cento, em 2021.

No mesmo seguimento, países como Austrália, Brasil, Irão, Japão e Rússia chegaram a entendimentos para usarem suas próprias moedas nas trocas comerciais.

No passado mês de Junho, o banco comercial e de investimento dos Estados Unidos, JP Morgan, revelou que a desdolarização é evidente pelo menos nas reservas cambiais, onde a partilha de dólar baixou a nível recorde.

Por sua vez, o economista chefe da empresa norte-americana de consultoria S&P, Paul Gruenwald, embora tenha afirmado, em Julho deste ano, que o dólar continua a ser moeda principal, mas não descarta a possibilidade de que jamais será moeda dominante no mundo.

Imbondeiro News

Comentários

Artigos relacionados