Arrancam hoje na África do Sul os trabalhos da 15ª cimeira do grupo BRICS

 Arrancam hoje na África do Sul os trabalhos da 15ª cimeira do grupo BRICS

Os trabalhos da 15ª cimeira do grupo BRICS arrancaram nas primeiras horas de hoje (terça-feira) em Sandton, arredores de Joanesburgo, na vizinha África do Sul, com observadores a preverem que o encontro preste a sua maior atenção à promoção de um sistema de governação global mais justo e procure vias tendentes a fazer face à hegemonia económica dos países ocidentais.

De acordo com os organizadores deste evento, estão presentes nesta reunião os Presidentes do Brasil, China, África do Sul, Primeiro-Ministro da Índia e ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, em representação do Presidente Vladimir Putin.

Observadores sugerem que a ausência do Presidente Putin nesta magna reunião desta aliança pode prejudicar a influência do seu país em África.

Putin não esta presente neste encontro, em virtude do mandato de captura, emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por alegada violação dos direitos humanos na Ucrânia.

Tecendo suas considerações sobre o assunto, o investigador associado da Universidade sul-africana de Witwatersrand, Gideon Chitanga, acredita que ‘’a ausência de Putin pode ajudar a manter o foco nas questões-chave’’ da cimeira.

Citado pela DW, Chitanga justifica que ‘’haverá menos ruído em relação ao Presidente Putin, à sua detenção e, provavelmente, à toda a questão que envolve as relações entre a Rússia e os países africanos’’.

Para Gustavo de Carvalho, investigador do Instituto para os Assuntos Globais Africanos da Universidade de Joanesburgo, a Rússia está economicamente fraca, neste preciso momento, o que pode deixar potencialmente a porta aberta para negociações mais profundas.

Carvalho reconhece que ‘’nem toda a gente está de acordo’’ com este ponto de vista. Ele ilustra que no período que antecedeu a cimeira, o líder do partido Combatentes da Liberdade Económica (EFF), Julius Malema, chegou a apelar aos seus apoiantes para que realizassem protestos de apoio ao Presidente russo.

Chitanga sublinha que alguns em África consideram Putin um aliado vital, porque muitos países do continente estão mais interessados em ‘’saber como é que irão beneficiar da cimeira e das relações com o grupo BRICS’’.

Este investigador realça que os países africanos não vão necessariamente capitular perante a pressão das nações ocidentais, vincando que há uma grande preocupação entre os decisores políticos, grupos de reflexão e académicos africanos, que são críticos quanto ao que classificam de hipocrisia do Ocidente, na sua tentativa de querer influenciar ou ditar a política dos Estados em África.

Lembra, no entanto, que na cimeira Rússia-África de 2023, realizada em Julho deste ano, estiveram apenas 17 chefes de Estado africanos, contra 43, em 2019.

Mas apesar disso, ‘’não se pode dizer que os líderes africanos viajaram ou estiveram representados em Moscovo, porque gostavam de Putin. Eles tinham interesses com a Rússia e que devem preservar’’.

Há ainda vozes que apontam que a Rússia e a China estão mais preocupados em ganhar influência económica e política, principalmente se a aliança aceitar a adesão de novos membros.

A Reuters escreve que o encontro de Joanesburgo espera adoptar uma posição sobre o aprofundamento da cooperação entre os países do Sul Global, em meio a um crescente descontentamento destes países contra o domínio das nações ocidentais nas instituições internacionais.

Observadores dizem que se a Arábia Saudita, o segundo maior produtor de petróleo no mundo, juntar-se ao lado da China e Rússia, vai preocupar os Estados Unidos da América e seus aliados.

Talmiz Ahmad, antigo Embaixador da Índia na Arábia Saudita, afirma que mesmo que haja um acordo sobre o princípio da expansão da organização, será praticamente uma vitória moral para a visão da Rússia e da China para que este bloco contrabalance as nações do G7.

Sublinha que países como Argélia, Argentina, Egipto, Emiratos Árabes Unidos, Indonésia e Irão, que pediram sua adesão à organização, vão dar maior poder ao grupo na arena internacional.

Alexis Habiyaremye, do Colégio de Negócios e Economia na Universidade sul-africana de Joanesburgo, observa que se um grande número de países for admitido nesta cimeira ‘’vai significar a emergência de um grande bloco económico e, não só, como também em termos de poder politico’’.

Chen Xiaodong, Embaixador da China na África do Sul, refere que os Estados Unidos têm estão a dar alguma importância aos seus laços bilaterais com a África do Sul, Brasil e Índia, numa tentativa de reduzir a influência da China e Rússia no grupo BRICS.

Segundo o diplomata, a União Europeia também tem acompanhado de perto os desenvolvimentos em torno desta cimeira, mas dando sempre o seu maior foco à guerra na Ucrânia.

Putin poderá usar esta reunião para anunciar mais carregamentos de cereais para países em vias de desenvolvimento, como já o fez em anteriores ocasiões para nações africanas, de acordo com Maria Snegovaya, do Centro para Estudos Estratégicos Internacionais no Programa Europa, Rússia e Eurásia.

Se isto acontecer, vai permitir a Putin a demonstrar as nações em vias de desenvolvimento a sua “boa vontade”.

Entretanto, a ministra sul-africana dos Negócios Estrangeiros, Naledi Pandor, revelou segunda-feira que a cimeira vai prestar atenção particular às relações entre países do BRICS e África e a questão do sistema financeiro global.

Também terá o seu maior enfoque sobre o comércio e oportunidades de investimentos, especialmente nas áreas de energia, infra-estruturas e desenvolvimento de economia digital e mercado laboral.

Foram convidados para esta cimeira 67 líderes de África, América Latina, Ásia e Caraíbas.

Imbondeiro News

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