Descendentes de escravos moçambicanos na África do Sul exigem justiça e compensação

 Descendentes de escravos moçambicanos na África do Sul exigem justiça e compensação

Descendentes de escravos moçambicanos, que foram libertados pelos britânicos e que depois passaram várias décadas de servidão, na África do Sul, estão agora a exigir justiça e compensação.

Este grupo de descendentes de escravos moçambicanos, organizado em uma comunidade denominada Comunidade Amakua-Zanzibar, vive no subúrbio de Chatsworth, cerca de 14 quilómetros a sudoeste do centro da cidade de Durban, na província sul-africana de KwaZulu-Natal.

Segundo um despacho da Reuters, o grupo promoveu recentemente um festival para assinalar o 150º aniversário da liberdade dos seus antepassados, com danças e canções tradicionais, entre apelos à justiça.

Um deles é Wally Sheik Anwarudeen, cujas origens remontam aos escravos moçambicanos. Anwarudee, de 75 anos, disse à Reuters que “quando a escravatura terminou ninguém foi compensado e fomos submetidos a trabalhos de escravo”, na África do Sul.

Os britânicos levaram os escravos moçambicanos para a África do Sul após interceptarem navios negreiros ilegais a caminho de Zanzibar, hoje parte insular da Tanzânia, na década de 1870.

A escravatura foi abolida em todo o Império Britânico, em 1833, e para suprir a escassez da mão-de-obra, os colonos levaram esses escravos para a região de KwaZulu-Natal.

Anwarudee contou que as autoridades do Império Britânico enviaram mais Amakua para a África do Sul, com vista a fazer face à crescente demanda da força de trabalho.

Acrescentou que sob o sistema colonial de trabalho escravo, os Amakua tiveram que trabalhar pela sua liberdade e, décadas depois, os seus descendentes foram forçados a abandonar o que se tornaria uma terra “apenas para brancos” durante os anos do apartheid.

Na conversa com a Reuters, este descendente de escravos moçambicanos vincou que “devíamos ter sido mandados para casa, mas em vez disso fomos para uma colónia, fomos levados por nada”.

Os líderes desta comunidade exigem a devolução das terras confiscadas pelo sistema do apartheid e apoio financeiro para levaram a cabo iniciativas visando proteger sua língua e cultura.

Outros membros da comunidade Amakua falaram da pressão crescente sobre as antigas potências coloniais em África, na América Latina e nas Caraíbas, apelando para compensação que beneficie os descendentes de milhões de pessoas escravizadas e combatam as desigualdades raciais, em várias partes do mundo.

A África perdeu pelo menos 12,5 milhões de africanos que foram raptados e transportados à força por navios maioritariamente europeus e vendidos como escravos entre os séculos XV e XIX.

Os anciãos Amakua afirmaram que as suas exigências são multifacetadas, mas recuperar as terras confiscadas pelo regime do apartheid aponta-se como uma exigência fundamental.

Explicaram que reconstruíram inicialmente as suas vidas em terras no bairro de Bluff, em Durban, mas foram expulsos, na década de 1950, ao abrigo das leis segregacionistas do apartheid.

Narrou que Bluff se tornou um bairro de brancos e os Amakua foram removidos para Chatsworth, uma área predominantemente indígena, onde a maioria deles ainda vive.

Os Amakua ganharam, nos últimos 20 anos, uma reivindicação de terras para poderem regressar a Bluff, mas os membros da comunidade dizem que os atrasos administrativos no Ministério da Justiça paralisaram o processo de sua transferência.

Ntando Khuzwayo, vereador do município de eThekwini, prometeu agilizar o processo da transferência desta comunidade, pois é imperioso que as terras sejam devolvidas aos seus legítimos proprietários.

Além de pretenderem recuperar as suas antigas terras, os Amakua também têm planos de preservar e promover a sua língua e cultura Emakhuwa, através da criação de arquivos online, um museu do património, um programa de orientação e de ensino de línguas.

Também pedem apoio financeiro para que estas iniciativas reflectiam a sua determinação em reivindicar “orgulhosamente a sua identidade, num país onde eram vistos como “demasiado negros” para serem indianos ou muçulmanos, ou ainda “demasiado muçulmanos” para serem negros.

 Faatima Sulaiman afirmou que “partiu-me o coração quando soube que fomos trazidos para cá como escravos”.

Contudo, eles reconhecem as complexidades de procurar compensações pelo comércio internacional que escravizou os seus antepassados.

“Queremos buscar compensações. A dificuldade é que muitos foram os responsáveis. Os traficantes de escravos árabes, portugueses, britânicos, omanis”, de acordo com Anwarudeen.

O evento contou com a presença de um grupo de visitantes Amakua de Moçambique que cantou na língua Emakhuwa. “Se esquecermos de onde viemos, não saberemos para onde vamos”, Jiniki Fraser, líder cultural e um dos organizadores do evento.

Imbondeiro News

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