Fala-se muito do grupo BRICS mas o que será para o mundo de hoje

Temos vindo a dedicar certa atenção ao bloco de países de economias emergentes, mais conhecido por BRICS, mas consta que muita coisa ainda não se sabe sobre a importância deste grupo, cujo horizonte tende a alargar-se, com a adesão de novos membros.
O termo BRICS provém de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Foi criado em 2001 e entre 22 e 24 deste mês (Agosto) realizou a sua 15ª cimeira na cidade de Joanesburgo, na vizinha África do Sul.
Há vozes que sugerem que esta aliança pode vir a abalar a economia mundial, pelo facto de haver mais países que pretendemjuntar-se ao grupo.
Aliás, em Janeiro de 2024, o bloco vai incluir Arábia Saudita, Argentina, Egipto, Emiratos Árabes Unidos, Etiópia e Irão, países que têm registado rápido crescimento das suas economias e o que mais despoleta atenção é o facto de integrar os gigantes do petróleo no mundo.
A rede noticiosa televisiva Euronews presta também a sua atenção ao assunto, indicando que o grupo BRICS está a passar do que os especialistas chamavam de um ‘’acrónimo preguiçoso’’ para um parceiro comercial incontornável na esfera mundial.
Avaliando, no entanto, a partir da sua génese, este bloco de países parecia que não tinha um objectivo claro e mergulhava-se em dificuldades em cooperar entre si, situação que em 2023 passou praticamente a história.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, na qualidade de anfitrião da cimeira deste ano, anunciou que mais de 40 países querem aderir ao bloco, o que mostra que o BRICS está a tornar-se uma força no mundo.
Tecendo suas considerações sobre a questão, o director executivo da consultora de negócios Macro-Advisory Ltd, Christopher Weafer, vai ainda longe, ao sugerir que as sanções impostas à Rússia e China, nos últimos 18 meses, funcionaram como um elemento catalisador para a aliança.
Weafer entende que a Rússia e China procuram reduzir a dependência excessiva das economias ocidentais.
Recuando no tempo, Weafer refere que a fundação desta organização, em 2001, não causou grandes dores de cabeça ao Ocidente, porque não evoluiu para algo que hoje se apresenta eficaz ou coordenado.
No entanto, ele confessa que ‘’sempre foi uma ideia quase como um acrónimo preguiçoso’’, indicando que não teve grande impacto no comércio mundial, pese embora tenha criado um banco que é detido conjuntamente – Novo Banco de Desenvolvimento (NDB- em inglês).
Para este especialista, a falta de objectivos visíveis e de coordenação, a par das diferenças tangíveis em termos de interesses políticos e de normas de produção, para não falar de moedas, impediram, na altura, os BRICS de se tornarem campeões de peso na cena económica mundial.
Lembra que os países das sete maiores economias G7, que inclui Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido da Grã-Bretanha, ignoravam algumas das exigências e interesses apresentados pelo grupo, o que ultimamente já não se pode fazer o mesmo, dada a actual geopolítica que começou a ter um impacto crescente nos laços económicos.
De facto, a expansão desta organização tende a oferecer oportunidade aos países membros de terem uma voz em questões como a gestão do clima e o controlo dos sistemas financeiros mundiais.
Os novos membros podem encarar a aliança BRICS como uma forma de diversificar as suas oportunidades de negócio e de serem menos dependentes dos países ocidentais e das suas regras, com a promessa de termos comerciais preferenciais entre si e outros incentivos, com vista a incrementar o comércio e investimentos transfronteiriços.
Weafer destaca que os membros deste bloco representam cerca de 42 por cento da população mundial e mais de 27 mil milhões de dólares norte-americanos de Produto Interno Bruto (PIB) acumulado.
Avança ainda que uma vez alargado, este grupo representará 46,5 por cento da população mundial e, utilizando os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativos ao PIB de 2022, pode calcular-se que vai representar 30,8 mil milhões de dólares norte-americanos do PIB mundial, de 100 mil milhões de dólares.
A Euronews realça que, por outro lado, o PIB baseado na paridade do poder de compra, ou seja, PPC (percentagem do PIB mundial baseada num cabaz comum de bens que representa o poder de compra real) mostra um equilíbrio de forças muito diferente.
Refere que, no total, os BRICS alargados vão aumentar a sua quota do PIB mundial para mais de 36 por cento em termos de PPC, ultrapassando assim ao do G7.
O articulista é de opinião de que não se deve ignorar a força deste grupo, uma vez que os seus membros detêm 45 por cento da produção mundial de petróleo e possuem sectores significativos de minério de ferro, carvão e bauxite, para além do papel fundamental que desempenham na agricultura mundial.
Outro aspecto a ter em conta é de as nações do G7, dependerem em grande medida do comércio com estes países e também da coordenação em questões ambientais. Por isso, as economias mais fortes do mundo não podem continuar a ignorar as necessidades do novo bloco em formação.
Aliás, o Presidente francês, Emmanuel Macron, admitiu, ainda esta semana, a possibilidade do risco de ‘’enfraquecimento’’ da Europa e do Ocidente, com a emergência de novas grandes potências no mundo.
Na sua análise, Weafer faz um outro olhar, no qual acredita que um dos pontos de viragem da discussão entre as economias mais fortes e países BRICS poderá ser a redução do fosso entre os seus interesses em questões ambientais e a definição de prioridades.
Países como a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, apesar do crescimento sustentável apontar-se como prioridade, ‘’o desenvolvimento económico e social vai constar no topo da agenda, com vista a criar uma base económica mais estável.
Uma das questões que se colocam sobre os BRICS é se estão ou não a trabalhar num sistema de utilização de uma moeda comum, o que para Weafer é ‘’o desafio comparável ao de cortar o nó górdio’’.
Ele acredita que aumentar o comércio bilateral e encontrar formas de o liquidar em moedas locais é muito mais provável para o grupo.
O Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou recentemente que 80 por cento do comércio entre a Rússia e China é efectuado em rublos russos ou em yuans chineses. Aliás, os cinco países do BRICS foram unânimes em afirmar, na sua recente cimeira, que não usariam mais a moeda norte-americana nas suas trocas comerciais.
O especialista acredita, por outro lado, que os acontecimentos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e o potencial conflito com Taiwan, vão continuar a dominar a cena económica mundial.
Portanto, os próximos 12 meses vão revelar os desafios e potencialidades que os BRICS vão trazer na sua próxima cimeira, agendada para Rússia, em Outubro de 2024.
Imbondeiro News
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