Instalado braço de ferro entre moradores do bairro Mafarinha e fábrica de explosivos em Sofala

 Instalado braço de ferro entre moradores do bairro Mafarinha e fábrica de explosivos em Sofala

– Mais de 300 moradores do bairro de Mafarinha, no distrito de Dondo, na província central de Sofala, não cedem sequer um diminuto espaço na sua disputa que se arrasta, nos últimos três anos, com a Fábrica de Explosivos de Moçambique (Fem) sobre o uso de terra, naquela região.

As mais de 300 famílias recusam-se redondamente a abandonar os seus locais de residência e até ameaçam agir drasticamente contra a fábrica, no que é o culminar de um conflito que, mesmo com a intervenção da edilidade, não tem produzido uma saída airosa ao impasse criado entre as partes.

A DW África contactou alguns populares queameaçam tomar acções extremas, incluindo a destruição daquela unidade fabril, que insiste na evacuação das famílias das suas proximidades.

Abrão Timóteo disse à DW África que a empresa iniciou os trabalhos, sem questionar aos locais, que vivem na zona há vários anos.

‘’Dizem que já indemnizaram esta área, mas nós, os residentes, não fomos informados. Estão a vandalizar e somos constantemente ameaçados’’, argumentou.

Saide Mapera, um outro residente de Mafarinha, afirmou que ‘’estamos aqui desde o tempo colonial, fugimos da guerra e agora estamos a ser expulsos do município. Afinal, quando alguém foge da guerra e volta, já não é sua terra’’.

Ana Paula Dias também contou que se estabeleceram naquela zona antes da fábrica, indicando que eles têm seus familiares e raízes.

‘’Nascemos, temos netos e estamos a envelhecer aqui. Os nossos pais também são daqui, e morreram aqui’’, revelou.

Domingos Ranço, que vive naquela área há mais de dez anos, informou ter adquirido a sua parcela de terra com grande esforço e que não tem outro local para construir.

Ranço acrescentou que muitos outros residem na zona há mais de 40 anos. Betinho Alberto, proprietário de uma das casas visadas, reside em Mafarinha há mais de 30 anos e herdou o espaço dos pais.

Ele afirmou estar surpreendido com os constantes avisos para deixar a região sem que condições seguras para as pessoas afectadas tenham sido criadas.

‘’Comprei este espaço com as pessoas nativas desta zona há anos e fui legalizar o terreno através do secretário do bairro de Mafarinha. Agora, a Fem vem com relatos de que temos que abandonar o espaço’’, explicou.

Aquela comunidade repudia o posicionamento tomado pela edilidade que tem afirmado que não se vai responsabilizar por este caso, pelo facto de ter alertado sobre a ilegalidade das construções.

Exige também que sejam criadas condições de habitação segura antes de qualquer acção.

A DW África contactou o edil do Dondo, Manuel Chaparica, que afirmou ‘’não haver espaço para recuo’’ e alegou violações de normas de ordenamento territorial, numa área de perigo.

Também mencionou que o empreendimento existe há mais de 50 anos e que, tanto a edilidade, como a Fem, estão preocupadas com a ocupação progressiva da área de segurança pelas comunidades, que podem ser vítimas, em caso de incidentes.

Chaparica disse que a edilidade identificou um espaço para reassentar aquela população, a uma distância de 500 metros da fábrica, acrescentando que a Fem está a produzir marcos para demarcar os terrenos.

A edilidade já teve várias reuniões com as famílias, apelando-as para abandonarem a área.

Prometeu que ‘’estamos a estudar outras formas de acolher as preocupações deles, mas devem deixar a zona para evitar o que aconteceu com a explosão no Porto de Beirute’’, no Líbano, em 2020.

Imbondeiro News

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