Observadores acreditam que moeda do BRICS pode desafiar hegemonia do dólar norte-americano

 Observadores acreditam que moeda do BRICS pode desafiar hegemonia do dólar norte-americano

Os líderes dos países do BRICS, bloco que integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estão a preparar-se para a sua próxima cimeira, a ter lugar em Agosto, na África do Sul, com analistas a apontarem que a criação de uma moeda comum estará no centro da agenda.

Chris Devonshire-Ellis, presidente da Dezan Shira e Amp Associates, firma multidisciplinar de serviços e investimentos, disse há dias à agência noticiosa Sputnik Brasil que o encontro vai ocorrer em meio ao que apelidou de uma enxurrada de abordagens e análises sobre uma nova moeda.

Com 30 anos de experiência em investimentos na Rússia, China e outros mercados asiáticos, Devonshire-Ellis explicou que o conceito de moeda única foi pronunciado pela primeira vez pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, durante o seu périplo por países africanos.

Lavrov, segundo Devenshire-Ellis, lançou uma variedade de configurações acerca de uma nova moeda, com ideias apontando a possibilidade de se lastrar em ouro ou moedas dos países do BRICS.

Avaliando as declarações de Devenshire-Ellis, tudo indica que os detalhes sobre a referida moeda ainda precisam ser aprofundados.

De tudo o que se pode dizer é de que os países do BRICS estão de facto a mover-se para desafiar à ordem financeira mundial liderada pelos Estados Unidos da América, cuja política externa e económica e dos seus aliados levou a maior parte do mundo a constatar que Washington não é um “líder global responsável.”

Devonshire-Ellis afirmou que esses sentimentos aplicam-se não apenas a adversários abertos dos Estados Unidos, como Rússia e China, mas também a países africanos, latino americanos e asiáticos.

“Os níveis de dívida insustentáveis e imposição de uma ‘ordem baseada em regras’ e uma economia global que só parecem servir os Estados Unidos e seus aliados, às custas de todos os outros,” é algo que os países em vias de desenvolvimento estão cada vez mais hesitantes em tolerar ou suportar a hegemonia do dólar norte-americano”, sustentou.

Segundo o articulista, “eles sentem que é necessário haver reequilíbrio e assim estão instigando isso para mudar a estrutura global para um modelo mais sustentável” que “inclua o desenvolvimento e introdução de uma moeda alternativa que possa ser usada quando não estiver negociando com os Estados Unidos ou seus aliados imediatos, ”‘ vincou.

Portanto, para este observador, a possível moeda do BRICS deve ser vista como uma “alternativa” ao dólar e não como “concorrente”.

Ele não excluiu a possibilidade de Washington tentar manipular o processo, de modo a ver uma relação directa, mas para o interlocutor “isso será evitado,” pois seria lógico para os países do BRICS limitar inicialmente o uso de sua nova moeda aos seus cinco membros, mais as oito nações que se inscreveram para ingressar e as 17 que manifestaram interesse.

No ntanto, defendeu ainda que a nova moeda precisa de mais de uma década para ser totalmente realizada como uma alternativa ao dólar.

Tecendo as suas considerações sobre o assunto, o ex-presidente do Conselho Empresarial do BRICS, Iqbal Surve disse à Sputnik que ele e seus colegas de conselho tiveram a ideia de uma moeda comum não tanto como um “rival” para qualquer outra moeda, mas como uma ferramenta necessária para “comércio contínuo” entre os países membros.

Iqbal Surve, um dos que participou no processo da criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB – em inglês), aconselhou aos países do BRICS para verem uma moeda comum não como uma ferramenta “reactiva” às sanções, mas sim como uma moeda para o crescente comércio intra-bloco.

Sustentou que ao fazerem isso, a moeda do BRICS encontrará sua base natural de forma muito semelhante ao euro, que introduzido pela União Europeia se tornou uma moeda global consolidada para os países do bloco, que até então tinham suas próprias moedas.

Lembrar, entretanto, que os Ministros dos Negócios Estrangeiros deste bloco estiveram reunidos recentemente na Cidade do Cabo, na África do Sul, para discutir, entre outros, as ferramentas que o bloco tem à sua disposição para escapar da hegemonia da ordem económica global dominada pelos Estados Unidos.

De acordo com a Sputnik, as negociações incluíram o uso potencial de moedas alternativas, com vista a proteger o Novo Banco de Desenvolvimento de sanções e desdolarização no comércio de forma mais ampla.

Imbondeiro News

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