Kapenta sob crescente pressão

Enquanto, por um lado, o governo se empenha em campanhas de preservação da kapenta, por outro, grupos de indivíduos, sem licença para exercer esta actividade, continuam, de forma persistente, a recorrer a artes nocivas na captura desta espécie, um dos principais recursos na albufeira de Cahora Bassa, província central moçambicana de Tete e fonte de proteínas no país e na região da África Austral.
Numa ronda pela região da albufeira de Cahora Bassa, a nossa reportagem apurou a proliferação de grupos de pessoas que estão a exercer crescente pressão sobre este pescado. As fontes, no anonimato, disseram que se trata de pessoas que mantêm barcos e trabalhadores, ao longo da albufeira.
Estes indivíduos capturam o peixe, a altas horas da noite, a partir dos povoados de Nhabando e Imboque ou Chikoa Nova e tantos outros localizados nas imediações da albufeira.
Eles usam redes mosquiteiras, prática proibida pelas autoridades moçambicanas, por retirar, não somente o peixe kapenta, mas como também os seus avos, comprometendo assim a sua reprodução.
Uma mulher do povoado de Nhabando, que negou revelar nome, disse ao Imbondeiro News que depois de capturarem o pescado, eles escondem-no no mato, onde fazem o seu posterior processamento.
Aqui em Nhabando, estes indivíduos são bem conhecidos, porque depois de processarem o pescado, eles vendem-no, em sacos, no mercado local. Os preços variam entre 1200 e 1500 meticais, cada saco (o equivalente a 19 e 23,8 dólares norte-americanos).
Entretanto, Jacinta Florindo Mtaia, directrora dos Serviços Provinciais das Actividades Económicas de Tete, tem apelado para a intensificação das campanhas de fiscalização ao longo da albufeira, com vista a neutralizar os envolvidos na pesca ilegal desta espécie.
Mtaia também quer ver os operadores semi-industrial e artesanal da kapenta a redobrarem os seus esforços, por forma a garantir a preservação desta espécie, nas águas da albufeira de Cahora Bassa.
“Todos somos chamados a participar nestas campanhas de neutralização destes malfeitores, porque a pesca ilegal da kapenta está a empobrecer as nossas comunidades e lesar o Estado”, disse.
Um dos operadores, que pediu anonimato, considerou de preocupante o recurso de redes mosquiteiras por grupos de criminosos. Disse que a continuar por mais tempo esta situação, a kapenta está condenada a sobreviver.
A solução deste problema, que não é hoje, não passa pela simples destruição das redes mosquiteiras, mas pela detenção e aprisionamento dos infractores.
“Queimar as redes não resolve nada, porque eles voltam a pescar, no dia seguinte, nos mesmos moldes”, indicou, frisando, todavia, que esta prática está a delapidar a espécie e a prejudicar o rendimento das comunidades locais.
Entretanto, empresas sul-africanas e zimbabweanas têm manifestado sua preocupação por recearem que a kapenta esteja em risco de se extinguir das águas de Cahora Bassa, face a práticas nocivas e crescente captura por ilegais, mas as autoridades distanciam-se desta possibilidade.
Reconhecem que está a haver baixo nível da sua captura, mas negam de forma categórica que se trata do seu aniquilamento.
Sabe-se, porém, que a quebra da produção deste pescado pode associar-se a vários factores, como a redução do nível das águas do rio da Zambeze e a falta das chuvas, mas o que mais concorre para explicar a situação é o persistente uso de artes nocivas, como redes mosquiteiras.
O governo provincial mantém missões integradas, que envolvem sectores da Polícia Lacustre Fluvial, Administração Marítima, Migração e Trabalho. Estas equipas monitoram todas as actividades desenvolvidas por operadores da kapenta espalhados pela albufeira, com vista a neutralizar os não licenciados, na sua maioria zimbabweanos, zambianos, tanzanianos e congoleses. Estes estrangeiros, para lograr os seus intentos, empregam moçambicanos habitando nas áreas de operação da kapenta, situação que acaba criando uma competição desmedida com empresas licenciadas.
Nhabando (Tete), 21 jan 2022 (Imbondeiro News)
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