O banco dos BRICS e multilateralismo multipolar

A cimeira dos países membros do grupo BRICS, agendada para a cidade de Durban, na África do Sul, em Agosto deste ano, é aguardada com muita expectativa, por se prever que traga novidades para a economia mundial que, desde o fim da segunda guerra mundial, é dominada pelo dólar norte-americano.
O bloco tem estado, desde a sua criação, em 2006, a procurar o fortalecimento do multilateralismo, incluindo reformas das instituições. Por isso, entre 22 e 24 de Agosto próximo, o mundo estará de olhos virados para a cidade de Durban, por o encontro mexer com o futuro da economia mundial.
A cimeira do bloco, que inclui África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, tem como lema “Parceria para Crescimento multilateral Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo”, o que não parece estar fora do contexto em que surgiu, em 2014, o Novo Banco para Desenvolvimento (NDB, em inglês).
É finalidade do NDB mobilizar recursos para infrastructuras e projectos de desenvolvimento sustentável nos países dos mercados emergentes e em vias de desenvolvimento, incluindo Moçambique.
Esta seria a razão de países como Bangladês, Egipto, Emiratos Árabes Unidos e Uruguai decidirem, em 2021, juntar-se como novos membros do NDB. Mais países anunciaram também sua intenção de aderir à esta aliança.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, diz que o banco dos BRICS constitui um mecanismo financeiro global para as economias emergentes e em vias de desenvolvimento.
Explica ainda que esta instituição bancária resulta de uma aspiração de economias não-ocidentais e um verdadeiro multilateralismo, que agora aparece como uma perspectiva realística, por oferecer alternativa à hegemonia do dólar eua.
Os BRICS já deram passo. A moeda chinesa (yuan), por exemplo, ultrapassou o dólar dos Estados Unidos, na Rússia, até primeiro trimestre de 2020.
O Banco Internacional diz que a participação da moeda norte-americana no comércio global entre os dois países (China e Rússia) caiu, pela primeira vez, em 50 por cento, de cerca de 90 por cento, em cinco anos apenas.
O Brasil também anunciou que iria usar a moeda chinesa nas suas trocas comerciais com o gigante asiático. A Índia, numa lista de 18 países, entre os quais Sri-Lanka, também anunciou que iria fazer as suas transações comerciais em rupi indiano.
Portanto, a futura alternativa ao Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional para o Sul Global parece estar a residir no NDB, presidido por Dilma Rousseff, antiga Presidente do Brasil.
Já há indicações desta instituição ter amealhado, em 2022, nas trocas comerciais inter-BRICS, 162 mil milhões de dólares eua.
Saudando o facto, o Presidente do Brasil, Inácio Lula da Silva, apelou recentemente para uma alternativa ao dólar norte-americano, sublinhando que “sempre me pergunto, porque é que todos os países estão amarrados ao dólar dos Estados Unidos e porque não podemos usar as nossas próprias moedas?”
Para Lula, uma nova moeda dos BRICS “vai libertar países emergentes da submissão a instituições financeiras tradicionais. Nenhum banco deverá asfixiar as economias de outros países, como faz o FMI”.
Entretanto, na qualidade de anfitrião do encontro, o Presidente Ramaphosa revelou que o grupo está a trabalhar, com vista a propor uma nova moeda de reserva para os cinco países, que se vai basear em ouro e outras mercadorias.
Indicou que uma vez que as moedas dos cinco países começam com a letra R – Renminbi (China), Rubro (Rússia), Real (Brasil), Rupi (Índia) e Rand (África do Sul), o projecto é designado R5.
Imbondeiro News
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